A Tuberculose na criança e no jovem (parte II)
Na prevenção, a vacinação pelo BCG, de acordo com “Expanded Programe of Immunization” da Organização Mundial de Saúde, é feita:
- em todos os recém -nascidos;
- nas crianças entre os 5 e 6 anos, quando não são reactivos ao teste de Mantoux;
- e nos jovens entre os 11 e 13 anos de idade, quando não são reactivos ao teste de Mantoux. (em algumas unidades de saúde já não se fazem)
Têm sido levantadas algumas criticas em relação ao teste de Mantoux:
1. Ausência de um valor objectivo de positividade;
2. Diminuição da sensibilidade em grupos de risco para tuberculose;
3. Especificidade condicionada por reacções cruzadas com vacinação com BCG e infecção com micobactérias não tuberculosas;
4. Requerer duas visitas à unidade de saúde e exigir que seja feito por pessoal treinado;
5. Persistem as dúvidas em relação aos testes falsos positivos – que obrigará a tratar indivíduos sem infecção – e aos falsos negativos – com consequente não tratamento de indivíduos realmente infectados.
Tratamento da TB:
O tratamento é habitualmente realizado com três a quatro fármacos (antibióticos específicos) entre os quais se contam a Isoniazida, a Rifampicina, a Pyrazinamida, o Etambutol ou Estreptomicina (HRZ/E ou S) administrados diariamente, durante os primeiros dois meses, seguidos de quatro meses de Isoniazida e Rifampicina (HR) administrados diária ou intermitentemente (algumas variações a este esquema básico são admitidas, dependendo do critério da equipa de saúde, que assiste à criança ou jovem),em doses que variam consante o peso da criança ou jovem. Contudo, para curar a doença, o tratamento deve ser efectuado durante seis meses, no mínimo.
Estes são sempre prescritos em combinação para reduzir o risco da bactéria se tornar resistente a um ou mais medicamentos. Mesmo assim, a resistência a esses
medicamentos vem crescendo. A causa principal da resistência à terapêutica que combate a tuberculose é o tratamento incompleto no caso dos medicamentos não terem sido prescritos ou tomados correctamente,ou então porque o tratamento foi interrompido (Conaty et al., 2004).
A partir do momento em que o tratamento é iniciado, a criança ou jovem normalmente não está mais infectada depois de duas semanas aproximadamente e começa a sentir-se efectivamente melhorada após o período de duas a quatro semanas.
Quando internada fica em quarto de isolamento (de preferência), na companhia da sua mãe ou pai, ou familiar que acompanhará a criança.
O tratamento é o melhor método de prevenir a propagação da TB, mas também é importante ensinar às crianças ou jovens a cobrirem a boca quando tossem. Deve ficar bem clara para os pais a importância de tomar os medicamentos todos os dias durante 6-8 meses, com a supervisão da pessoa que faz o apoio ( a mãe ou o pai) ao tratamento. Por último, são feitas verificações da expectoração a intervalos de cerca de dois meses, para monitorizar o progresso em direcção à cura, quando a criança ou jovem está internado.
"As taxas de prevalência de tuberculose infecção e doença têm declinado em Portugal. No entanto, não devemos esquecer que a pandemia da infecção pelo vírus de imunodeficiência humana, a toxicodependência e más condições de salubridade podem reverter esta tendência.
O rastreio de crianças assintomáticas em contacto com adultos em risco de contrair a doença é crucial pois os casos de tuberculose infantil são devidos a um risco elevado e recente de transmissão na comunidade.
para predizer a presença de infecção/doença, mas boa acuidade para a excluir, quando aplicado a esta peculiar população portuguesa de alto risco. Neste estudo foi difícil detectar as fontes de contágio. No entanto, o tratamento dos casos de tuberculose infecção foi uma mais valia na interrupção do ciclo de infecção, com elevada rentabilidade social e económica" (Pimentel, Teixeira, Varandas e Pimpão, 2007).
O programa de prevenção da TB inclui ainda o rastreio de grupos de alto risco e de contactos de doentes bacilíferos, com instituição de quimioprofilaxia nas crianças com menos de 5 anos de idade.
O rastreio dos contactos tem sido deficiente e a quimioprofilaxia tem sido pouco usada. A avaliação do programa de prevenção da TB tem sido implementada, mas os progressos tèm sido lentos.
Um pouco de História ...
Para se falar em tuberculose em Portugal, não podemos esquecer-nos dos famosos "sanatórios", que eram edifícios (na maioria, transformados em lares de idosos ou não ou ainda abandonados à sua sorte) onde eram tratados os doentes com tuberculose e que se espalharam um pouco por todo o País.
Foi em 1862 que se construiu o primeiro Sanatório para tratamento da tuberculose (TB) no Funchal.
Em 1899, a Rainha D. Amélia patrocinou uma fundação com uma rede de dispensários, hospitais, sanatórios e "preventórios" onde doentes e familiares e outros conviventes de tuberculose eram acolhidos para vigilância e tratamento. Esta fundação tornou-se um instituto público em 1946.
A Luta Contra a Tuberculose beneficiou sempre de grande apoio político, social e público e de generosos financiamentos para toda a assistência gratuita, incluindo o fornecimento dos antibacilares mais recentes: Estreptomicina que foi introduzida em 1949, Rifampicina em 1966, e esquemas de tratamento curto em 1979. A vigilância epidemiológica iniciou-se em 1951.
O sistema de avaliação evoluiu do processo manual para um sistema de cartão perfurado e depois para um processamento rudimentar usando um computador central.
A ficha estandardizada incluía dados sobre identificação do portador de tuberculose com local de residência, localização da doença, extensão radiológica nos casos pulmonares, resultados dos exames bacteriológicos, classificação como caso novo ou recidiva, dados da vacina BCG e teste de Mantoux assim como o resultado do tratamento. Como os casos eram tratados no sistema público e raramente no sector privado, os dados estatísticos eram fiáveis e representativos da situação epidemiológica. Aceitava-se que mais de 95% dos casos diagnosticados e tratados eram registados.
A Tuberculose em Portugal em 1994.
Em 1994, 75% dos 5619 casos notificados em Portugal, diziam respeito a apenas cinco distritos - Aveiro, Braga, Lisboa, Porto e Setúbal, todos no litoral. Os distritos de Lisboa e Porto contam, cada um, com cerca de 25% do total. A doença é muito menos comum no interior, onde, nas crianças a incidência é ainda muito mais baixa.
Os casos no sexo masculino contaram com 65% do total. A incidência específica por grupos etários foi francamente maior nos grupos dos adultos jovens, como se verifica nos países em desenvolvimento, com taxas também elevadas nos idosos, segundo um padrão de distribuição que se mantém sobreponível ao dos últimos cinco anos (figura 3).
A cobertura vacinal pelo BCG nos recém-nascidos elevou-se, a nível nacional, para 91% a par da melhoria de outros importantes indicadores de saúde infantil. A incidência da TB nas crianças com menos de 15 anos foi de 21/100 000 enquanto a da população geral foi de 51/100 000.
No âmbito das comemorações do Dia Mundial da Tuberculose de 2008, esteve patente ao público de 27 de Março a 2 de Maio, no Museu das Telecomunicações, em Lisboa, a exposição “A luta contra a tuberculose em Portugal”. Organizada pela Associação Nacional de Tuberculose e Doenças Respiratórias e pela Fundação Portuguesa das Comunicações, em colaboração com o Museu da Saúde do INSA, a exposição pretendeu “ilustrar os esforços feitos no passado na luta contra a doença em Portugal, bem como sensibilizar o público para o facto da tuberculose permanecer ainda como ameaça universal. A exposição “A luta contra a tuberculose em Portugal” foi visitada por inúmeros portugueses.
Para mais informações, consulte o site do Museu das Comunicações.
Museu das Comunicações
Rua do Instituto Industrial, 16
1200 Lisboa
Tel.: (+351) 213.935.107
Além da colaboração nesta iniciativa, o INSA assinalou este ano o Dia Mundial da Tuberculose com um rastreio para os utentes que se deslocaram às suas instalações no dia 24 de Março, realizado pelo Centro de Diagnóstico Pneumológico da Alameda.
Conclusão
A TB continua a ser um importante problema de saúde em Portugal, pois necessita de uma maior intervenção da Saúde Pública a nível local e distrital nas áreas mais afectadas, particularmente nos distritos de Lisboa e Porto, essencialmente a nível comunitário.
- Direcção-Geral da Saúde. Tuberculose em Portugal, 1993. Lisboa, 1994
- Serra T, Lopes H, Salema A. Antunes ML. Tuberculosis Surveillance and evaluation system in Portugal. Tuber Lung Dis 1992; 7: 345 - 8.
22 Comments:
Como sempre...óptimo post.O tema causa-me alguma relutância. A Tuberculose matou a minha avó materna, deixando maselas no meu pai...
Grande beijinho
De acordo com a Raquel, Rosa, um óptimo post. Beijinhos da Margarida e uma BOA SEMANA, com tudo de bom!
a sério, este blog é já uma referencia para mim!...continue com este fantástico trabalho!!! adorei o post, á muito que esperava a parte dois do tema tuberculose.
Bjx...do mando...
Mais um excelente trabalho, Rosa!
Do que li, percebi que a "mortandade" provocada pela tuberculose começou a diminuir nos anos 40 do século passado.
Percebi bem?
Beijinhos
Olá Rosa, mais um óptimo post, amiga!
Bjinhos da Joana Santos.
Mais um útil artigo, querida!
Previnir é sempre o melhor remédio e, nos casos de doenças contagiosas e até mesmo alérgicas, a boa higiêne é muito eficaz.
Grande beijo
Minha nossa, gostei de seu blog!
Prometo que volto!
Jorge. Valeu!!!
Olá Rosa, gostei do artigo. Está excepcional, amiga. Um grande beijinho, J.B.
Oi Rosa, adorei este post. Sempre ouvi falar dos sanatórios desde pequena...ainda bem que já existem, sinal de tempos em que a TB está mais controlada.
Bjinho grande, amiga!
Amiga,
Obrigado pelas palavras deixadas no Mar de Sonhos e os teus votos de sucesso para o meu novo livro.
Estive a ler este interessante texto que aqui colocaste e quero dar-te os parabéns pelo mesmo.
Com amizade, até breve
Luis
A tuberculose tal como a sida são um flagelo em África nas ex-colónias. Que medidas são tomadas em Portugal para evitar que os que os portugueses que por lá trabalham e que neste momento já são um número considerável em Angola , não venham a contagiar por cá, se vierem infectados?
sempre que tenho um bocadinho, venho aqui aprender umas coisinhas
Obrigada querida amiga
Olá Rosa: Divulga recrutam-se enfermeiros na Marinha.
http://www.marinha.pt/NR/rdonlyres/87781C78-6F71-4833-8ABE-B9A0495AAB66/5555/NormaHEHP.pdf
...
Rosa,
Mais um excelente trabalho.
Saúdo-te por mais esta lição.
Um abraço
Oi Prof.ª Rosa tudo bem consigo...temos saudades suas!
jinhos da M e do C.
Olá D.Rosa.
Venho desejar-te um bom fim de semana e ao som de uma bela musica q dedico a todas a mulheres romanticas ;)
Bjs
D.
Amiga
Agradeço os teus votos e desejo-te uma excelente semana.
Bj
Luis
Olá Rosa: parabéns pela qualidade e escolha do tema, atual e necessário nos dias de hoje, quando assistimos um recrudescimento da tuberculose. Abraços brasileiros para você!
Oi Rosa, obrigado pela partilha de artigo tão importante na época que decorre, onde a fome se vai fazendo sentir e as doenças, entre as quais,a TB vai reaparecendo, infelizmente.
Um beijinho grande, amiga!
Queria claro deixar os parabéns muito atrasados pelo aniversário do Criancices!
Aproveito para revelar que os nossos blogs tem sido alvo de bibliografias... É uma mais valia!
Beijo grande!
Obrigado a todos, sem excepção, que têm feito do CRIANCICES, aquilo que ele hoje é!
Abraços e beijinhos a quem tem de direito. RS.
Olá Rosa.
Meu nome é Gustavo, faço Pos-Graduaçao em Quimica na UFC-CE, vou apresentar um seminario relacionado a Tuberculose de 40 minutos na disciplina que estou cursando, e gostaria de saber se voce poderia me enviar os textos completo deste assunto?
grato!!
gustavoufc@yahoo.com.br
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