A doença crónica nas crianças e jovens (II parte)
É natural que, perante uma doença crónica, os pais apresentem as seguintes fases:
- negação e descrença (que já poderiam vir a apresentar na fase aguda da doença);
- raiva, que podem direccionar relativamente à criança, jovem ou técnicos de saúde e até para si próprios;
- culpabilidade pela doença do filho (sentindo que falharam no papel de pais e sentindo-se inseguros para cuidar dos seus filhos com "aquela doença").
A culpa é quase sempre uma resposta universal para os pais.
No caso da familia ter mais filhos, além daquele que está doente, os pais podem vir a verbalizar expressões do género: " ficamos mais tempo no hospital do que em casa...".
"... o meu filho que não está doente precisa entender que preciso cuidar deste que está doente...".
"... sinto-me mal, pois parece que tudo acabou… abandonei tudo, marido e as outras crianças, pois passo a maior parte do tempo no hospital...".;
- frustração e perda de controlo, resultantes da falta de informação relativamente à situação clínica do seu filho, de estabelecer e cumprir regras hospitalares ou fazê-las cumprir, ou então a sensação de serem recebidos hostilmente ou de questionarem incessamente os técnicos;
- depressão que pode surgir após a agudização da doença, acompanhada de exaustação física e mental, além de preocupação com as despesas que a doença acarreta, se for uma família com dificuldades económicas;
- medo e ansiedade relacionada com o prognóstico da doença, procedimentos, tratamentos e sequelas traumáticas que a criança ou jovem possa vir a vivenciar.
A doença crónica afecta os hábitos dos seus portadores. Os pais têm que ter a percepção que a doença vai alterar os hábitos da criança ou jovem e transmitir essa percepção ao filho. Saber gerir essa nova situação é fundamental para a criança e o adolescente. Têm que ter a noção que não se podem apegar a uma condição antiga que não existe mais...
Caso contrário, os pais podem vir a pôr a saúde dos filhos em risco...
Os pais têm que aceitar a doença e terem a percepção de que podem pedir ajuda sempre que necessitarem, seja dos médicos, dos enfermeiros como dos psicológos, se for caso disso. Caso contrário, poderão prejudicar a saúde da criança ou jovem. No caso de uma criança não poder ingerir líquidos durante um determinado período de tempo (por exame que terá que fazer, à posteriori), os pais têm que se manter firmes e tentar ser convincentes com os filhos, no sentido de acatar essa condição. Se um jovem necessitar de repouso, por exemplo, e os pais forem condescentes com o apelo do jovem em não o fazer não o estarão a ajudar, embora essa situação possa vir a ser constrangedora para os pais.
É nestas situações que os enfermeiros poderão ajudar como se fossem mediadores entre os pais e os filhos.
Cabe também aos enfermeiros se adequarem a estas necessidades que são diferentes das necessidades do acompanhamento de crianças com doenças agudas (por exemplo, no caso de crianças pós traumatizadas (ligeiros) com bronquíolite ou gastroenterite).
O conhecimento e aceitação da doença é pois muito importante para gerir sentimentos que irão surgir na evolução da doença, tanto para a criança ou jovem assim como para a família.
Os cuidados de enfermagem devem dar resposta às necessidades cognitivas, emocionais, comportamentais e informativas dos pais.
Para os mesmos é muito importante:
- a verificação de que estão a receber os cuidados físicos que lhes são inerentes;
- a compreensão da situação clínica;
- a sensação de que são importantes naquela etapa de vida dos filhos, que estão também a "ajudar e que são capazes disso";
Os pais verbalizam muitas vezes essas situações:
"...A experiência foi-me ensinando. Ela (criança) tem gastrostomia...
tenho que ter cuidado com a mudança do saco... não adianta eu ficar com medo de o fazer, pois em casa eu que vou fazer sozinha"...
- o saber discutir os sentimentos acerca da doença e da hospitalização;
- o saber gerir a situação no sentido de toda a família não se tornar disfuncional;
Bibliografia:
Dias, C.; Costa, D.;Garrido, I. (2002)- Acompanhamento da criança hospitalizada. Enfermagem Oncológica, nº 21;
Jorge, Ana Maria (2004) - Família e Hospitalização da Criança (Re)Pensar o Cuidar em Enfermagem;
Martins, A. (1991)- Alguns aspectos psicológicos da humanização em Moleiro(org.)- Humanizar o atendimento à criança. Lisboa: Seccção de Pediatria Social da Sociedade Portuguesa de Pediatria, Grupo Husac;
Whaley, L.; Wong,D.(1999)- Enfermagem Pediátrica- Elementos Essenciais à Intervenção Efectiva. Rio de Janeiro. Editora Guanabara-Koogan.
19 Comments:
Querida Rosa!
Um texto (em duas partes) muito esclarecedor para quem sobre o assunto das doenças crónicas nos jovens nada ou pouco sabia (felizmente, porque esse problema não me entrou pela casa dentro).
Gostei de te ler e cada vez me convenço mais de que deves ser uma grande profissional e um enorme ser humano.
Obrigado pelo teu comentário ao meu texto "Adoramos o papá!".
A vida actual faz com que os idosos vão acabar os seus dias em lares.
Ficar em casa, acompanhado por familiares é cada vez mais um "luxo".
O meu pai, viúvo e com um cancro de pulmão, também se finou num lar que lhe deu muito que os filhos não poderiam oferecer-lhe, mas não faltei um único dia a falar com ele e a fazer-lhe uma carícia.
E não me arrependo da decisão tomada.
Foi a melhor para ele.
Beijinhos
Olá, Rosa!
Enfermagem é um curso superior e há uma Ordem dos enfermeiros, certo?
Isso já é muito significativo.
Beijinhos
Mais um post interessante!
Adorei o vídeo, embora seja em espanhol...mas deu pra perceber...um beijinho,valeu?
Olá Rosa!A continuação da temática está bem elaborada: é o dois em um!
Assim é menos maçudo!Contudo gostei de ler o que li e um bjinho muito grande para ti!
as crianças portadoras de doenças crónicas transportam consigo o mais significativo e puro "porquê?". E faz todo o sentido tentarmos, num trabalho conjunto, fazer desaparecer esse porquê, tantas vezes inexplicável, para dar lugar a um tão doce sorriso.
Concordo com o António... pois deves ser um ser humano com muita luz e uma profissional dedicada e bem formada.
obrigado pela partilha da temática.
bjokas @vesso
p.s. - sim as fotos são de uma ida a Évora, tão bela e nobre terra.
Obrigado pela visita serás sempre bem vinda!
@vesso
Eu admiro cada vez mais a capacidade de resiliência dos pais.
E a evidência do bem que faz à criança a presença dos pais para a sua própria adaptação às cirscunstâncias que doença traz e vai trazer para sempre à sua vida. E quantas vezes esta criança é ainda tão pequena e já uma vencedora... E os pais muitas vezes nem estão presentes diariamente pois perante internamentos tão prolongados vêem-se obrigados a deixar a sua criança aos cuidados dos enfermeiros em quem acabam por depositar toda a confiança. Muitas vezes visitam-na semanalmente ou quando podem mas quando estão, estão mesmo! No meu serviço foram crianças para casa e são os pais que colocam e põem em curso nutrição parentérica em cateter venoso central com bons resultados e sabem que têm sempre o apoio do hospital para qualquer eventualidade.
Excelente trabalho, este teu. Aliás na senda daquilo a que nos habituaste.
É admirável a tua dedicação às crianças, particularmente àquelas que sofrem.
Um abraço
Olá Rosa!Continua a saga dos posts duplamente informativos e educativos! Parabéns e um abraço do Paulo.Voltarei!
Olá, Rosa!
Obrigado pelo teu comentário à minha história d' "Um encontro inoportuno".
Beijinhos
(rir também faz bem à saúde!)
Gosto de passar por aqui! Mais um post interessante e que nos faz pensar as dificuldades que passam os pais destas crianças!
Obrigada pela partilha!
Um grande beijinho!
Vim aki desejar-te um bom fds.
Bjs
D.
Uma criança com doença crónica necessita de uma eficiente rede familiar que a apoie, senão não consegue ultrapassar essa etapa de sua vida que é, algumas vezes, muito traumatizante,por exemplo, se a criança fôr pequenininha e não o compreender, "o facto de não compreender porque faz tantos tratamentos dolorosos"...
Parabéns pro espaço bloguistico, valeu!!!!
Olá Rosa!
Estive a dar uma espreitadela pelo seu blog e confesso que aprendi muito. Está muito bem pensado e super imaginativo. Gostei muito e a patir deste momento serei espectadora assídua dos seus posts. :)
Um beijo e boa continuação
Oi Rosa, amiga como vais?
Temos que nos encontrar para pôr a conversa em dia, okey?
Um grande beijinho para t!
Muito bom.
Parabens!
Boa semana
Muito bom este post, parabéns.
Este post está mesmo muito bom!
Já me tinham falado neste blog mas ainda não tinha navegado nele!
A autora está de parabéns!
António, Rosário,Sofia, Marta, Mariana, Palavras@avesso, Um poema, Paulo, Mafalda, Dreanmaster, leituras,Kaska@deskaska,Ana, Anonymous,beijinhos e abraços a quem tem de direito!
Obrigada pelos comentários e pela visita!
Uma excelente Páscoa!
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