terça-feira, maio 08, 2007

Crianças ao poder?...(II Parte)


Se o séc.XX foi anunciado como “século da criança”, confirmando um longo caminho realizado na salvaguarda do valor da infância, mas com muitas promessas por cumprir, o presente, o século XXI ainda está muito longe daquilo que se poderia considerar como século da criança.
Se quase no final de século XX lutou-se pela proclamação dos direitos das crianças (Declaração Universal dos Direitos da Criança) em 1959 e pela proclamação da Convenção dos Direitos da Criança, que consta de 54 artigos, em 1989, na realidade os direitos de base que consistem em direitos à sobrevivência (ex. o direito a cuidados de saúde adequados), os direitos relativos ao desenvolvimento (ex. o direito à educação), os direitos relativos à protecção (ex. o direito de ser protegida contra o trabalho infantil), os direitos de participação (ex. o direito de exprimir a sua própria opinião) não são cumpridos para muitas crianças deste planeta.
Acontece que, a nível mundial, as crianças actualmente ainda sofrem com situações de rapto, venda, prostituição, abandono, pedofilia, guerras, conflitos nas regiões onde vivem ou com os familiares (pais, tios, avós), negligência, agressividade, analfabetismo e outras situações não menos graves.

Queiramos ou não, o ambiente social, cultural, económico, moral e pouco humanizado (ausência de valores, essencialmente ausência de afectos) repercute-se tendenciosamente na denominada aldeia global, ainda muito diferenciada e diversificada que muitos defendem como real, mas que se manifesta essencialmente comunicacional (tendo como exemplo as redes de comunicação mais desenvolvidas:a Internet).

A agressividade das crianças e jovens sobre os seus pais, familiares mais próximos e professores é notícia a nível mundial. Todos os dias ouvimos e lemos acerca de casos de agressão entre progenitores e filhos (ditos "normais").
Quando esse comportamento é próprio de crianças com doenças mentais ou psíquicas, os pais podem recorrer aos psicológos, psiquiatras e enfermeiros de saúde mental, se necessitarem de ajuda. A criança pode apresentar comportamento de negativismo, provocação e reiterada oposição, teimosia e não obediência às figuras dos pais, educadores ou professores (figuras de autoridade) que, por vezes, pode ser nomeadamente desafiante (comportamento de oposição).
São crianças ou adolescentes que agridem pessoas e animais, envolvem-se em brigas, destruição de propriedade alheia, etc. Fugas de casa, sérias violações de regras, ausência sistemática às aulas, são sinais que os pais devem levar em conta.

CONSELHOS PARA OS PAIS DO SÉCULO XXI

As crianças mais pequenas (desde aproximadamente os seis meses de idade, até essa altura o sono pode ser ainda instável, por vários factores) manifestam desde muito cedo hábitos próprios para adormecer, são as chamadas “manhas” para adormecer.
Nesta altura, uma criança deve ter um ritmo estipulado para adormecer: a mãe ou pai deve providenciar que a criança se deite sempre à mesma hora, que durma num ambiente calmo, na sua cama, se preferir, ao som da caixinha de música, agarrada a uma fralda de pano ou a um boneco de pano, excepto quando está doente ou internada. A finalidade desta medida, que não parece muito importante, é a da criança adquirir hábitos de sono e delimitar o seu espaço, caso contrário poderá ditar as regras a seu belo prazer (poderá ser tentada a adormecer às mesmas horas que os pais, num clima mais estressante e nada calmo).


Os pais não se devem culpabilizar constantemente pelo comportamento dos filhos, quando estes são agressivos, nem se isolarem com receio de birras ou manifestações públicas, devem antes procurar saber o que está por detrás dessa agressividade e serem firmes e coerentes ao impor as regras educativas que são necessárias. “A educação é uma base de vínculos e de afectos onde não há culpas”(Gomes Pedro)
Quando decidem castigar uma criança (seja o castigo físico ou não, dependendo das perspectivas educativas dos educadores), os pais devem explicar-lhe exactamente por que razão estão a castigá-la e como deve proceder no futuro. A mentira ou simulação podem levar a uma interpretação errónea da medida tomada (castigo) e nesse sentido não terá o efeito desejado (Brazelton).

Para se fazer respeitar não é necessário falar alto ou gritar pois esse tipo de atitude, muitas vezes, não resulta com uma criança ou jovem (Brazelton).
Para se ser respeitado deve respeitar-se o Outro. Os pais devem antes valorizar com mérito as pequenas acções que a criança ou jovem realiza e mostrarem-se contentes quando o seu filho desempenha alguma tarefa. Este tipo de atitude ajudá-lo-á a ganhar autonomia e confiança, condição essencial para o seu crescimento pessoal(Javier Urra).

Maddie McCann's : se souberem acerca desta menina (3 anos)
liguem para os telefones: 289 884 500 ,
282 405 400 , 218 641 000 , 112

Actualmente a vigilância é fundamental. Longe está o tempo em que podiamos deixar os filhos em casa com a porta encostada (isto nas aldeias, onde existia um espirito acentuado de interajuda ) somente para nos deslocarmos até à casa da tia ou até ao café mais próximo (vejam o que aconteceu com a Maddie, sinal de que todo o cuidado é pouco! infelizmente...) ou sozinhos (as crianças podem cair e magoar-se, podem tocar em sitios que não devem, como tomadas electricas , etc).

Outra atitude a ter em conta consiste em que os pais se informem, desde cedo, como é que as crianças se comportam em casa (no caso de ficarem à guarda de uma ama ou avó), no infantário e na escola e falarem, sempre que tenham dúvidas com o educador ou com o professor (Brazelton).

Um lar harmonioso onde se manifeste sobretudo a afectividade (amor,carinho), a segurança, a tolerância (q.b.), a coerência ajuda uma criança ou um jovem a crescer convenientemente.
De facto, um lar que se destaque por um ambiente familiar hostil, em que não raramente os familaires estão aos berros, cenas de agressividade, discussões ou humilhações, mesmo fortuitas, não é desejável para qualquer criança. O pai ou a mãe não devem nunca ignorar a criança ou o jovem, mas estar sempre disponível para uma conversa, desde que a criança é bebé de colo, ou até anteriormente. Não devemos esquecer que a comunicação constitui um laço afectivo importante entre pais e filhos (Javier Urra, Brazelton, Gomes Pedro).
Parafraseando Brazelton "É importante que os pais encontrem o seu próprio caminho na educação da criança", para bem dos dois, tendo em atenção que os pais do século XXI que trabalham têm muita dificuldade em lidar com os limites. Refere ainda Brazelton "Os pais dizem-me: Não posso estar fora o dia todo e depois chegar a casa e querer impor a disciplina".Os pais precisam de muita ajuda para perceberem que a disciplina é importante para a criança ou jovem. Sobretudo quando as crianças têm a tendência a fazer disparates ao fim do dia, quando os pais chegam, cansados, testam os limites dos pais, porque precisam da segurança que advém desses limites. A disciplina deveria ser essencialmente verbal e incluir determinados limites, solução de problemas, apreensão do acto de antecipar situações difíceis e apreensão para lidar com a frustração, o sentimento de perda e a humilhação.
Mas o adulto (neste caso, os pais) deve ter a percepção de que nunca deve humilhar - "a humilhação gera o ressentimento"(Brazelton) e a maioria dos pais sabe que assim é.

Bibliografia:
Brazelton, T. Berry; Sparrow, Johua, D.(2004)- A criança e a disciplina. Editora Presença
Pedro Gomes, J. Para um sentido de coerência na criança (Texto fotocopiado)
Urra. J. (2003). O Pequeno Ditador: da Criança Mimada ao Adolescente Agressivo. Editora Estufa dos Livros, Lisboa.
Whaley, L.; Wong,D.(1999)- Enfermagem Pediátrica- Elementos Essenciais à Intervenção Efectiva. Rio de Janeiro. Editora Guanabara-Koogan.

16 Comments:

At 7:39 da tarde, Blogger Ana said...

Olá Rosa.
Os pais têm a obrigação de dar amor, educação, estudos e tudo o que a criança necessita, sem que para isso ela torne-se mimada, porque isso traz consequencias.
Infelizmente casos como o da Madeleine são muitos até mesmo em Portugal.
Resta a esperança que ela regresse sã e salva.
Beijos

 
At 10:43 da tarde, Blogger Blogger de Saúde said...

Verdade hoje é que o Amor é substituido por bens materias... Quanto à obrigação em dar Amor, não concordo só com o termo OBRIGAÇÃO, deveria ser algo não obrigatório mas sim sempre presente... Mais um belo post...

 
At 9:25 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Concordo com o Sérgio, o amor é sustituído por bens materiais (por isso se compram tantos jogos e brinquedos para as crianças actuais)mas unca deve ser uma obrigação dos pais o dar amor ou carinho. Estes sentimentos devem ser naturalmente inerentes do vínculo pais-filhos...sem necessidade de obrigação.
Um belo post,sem dúvida, um grande beijinho!

 
At 2:44 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Olá Rosa, mais um belo post!Efectivamente as crianças actuais são muito mimadas, o que não contribui em nada para um lar harmonioso, antes pelo contrário.
Quando são adolescentes e chantageam os pais, então ainda se torna um caso mais problemático!
Um grande abraço!

 
At 6:47 da tarde, Blogger António said...

Querida Rosa!
Estes dois textos são de grande valor didáctico para todos nós que não pensamos o suficiente sobre esses assuntos.
Obrigado por os escreveres e colocares à nossa disposição.

Quero também agradecer o teu comentário à "Herança".

Beijinhos

 
At 9:23 da tarde, Blogger Um Poema said...

Está tudo aí.
É mais um excelente trabalho.

Quanto à Maddie, já muito foi dito. Mas de todo este drama há uma verdade que ressalta. Abandonar 3 crianças em casa para ir para o bar, fosse para jantar, embebedar-se ou simplesmente ir, mostra um comportamento não apenas irresponsável mas criminoso.
Infelizmente é a menina quem sofre as consequências dessa irresponsabilidade.

Um abraço

 
At 2:17 da tarde, Anonymous Anónimo said...

De blog em blog vim até "Criancices", se calhar sugestionada pelo próprio nome, por defeito de profissão.
Gostei muito do pouco que li...tem muita qualidade.Vou voltar concerteza. Ainda bem que descobri esta Rosa Silvestre!

 
At 10:50 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Olá Rosa, tudo bem?
O tema escolhido é de longe o mais pertinentemente escolhido! Os miúdos actuais, alguns deles, são perquenos ditadores....são eles que mandam em casa, põem e dispõem sobreo que quer que seja, mandam nos pais, etc.Efectivamente estamos no século da criança no poder....mas somente algumas crianças, porque para outras este mundo ainda é um inferno!
Um beijinho!

 
At 2:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Oi Rosa, só para dizer Bom fim-de-semana. Bjinhos!

 
At 3:06 da tarde, Anonymous Anónimo said...

OLá, execelente trabalho. Bom fim de semana.

 
At 10:57 da manhã, Blogger Nana said...

Gostei da parte II deste artigo.
De facto hà uma distancia enorme entre as crianças "que têm tudo" e as "que não têm nada" ...
Aprecio a maneira que tens de expor o teu artigo, com referências a autores.
Os pais e educadores deveriam ser capazes de se auto-criticar para avançar na boa direcção, pois ser pai/mãe não se inventa, mas pode-se melhorar ...
Beijocas

PS : obrigada pelas tuas passagens là pelo meu sitio ...

 
At 3:40 da tarde, Blogger Saúde Materna - Centro de Saúde da Feira said...

Muito obrigada pela visita ao nosso blog e por o ter adicionado aos seus links, nós também fizemos o mesmo.
Gostamos da visita é bom saber que os enfermeiros estão cada vez mais preocupados com o CUIDAR.

 
At 4:39 da tarde, Blogger Sandokan said...

Esta noite, o luar
é um corpo branco de mulher
no azul do ar,
reclinado,
roçando a fronte do poeta
eternamente dos céus enamorado.

Mas eu sou teu Amigo,
companheiro de
longas caminhadas.
Amigo
que não esquece a estrada,
porque ela é
uma doença romântica,
um assunto do coração,
uma metáfora da vida.
Anda, vem caminhar comigo
indiferente
a esta mais longa e
violenta caminhada,
porque terás sempre
a minha
SOLIDARIEDADE

*

Vem comigo, então, ao
http://lusoprosecontras.blogspot.com

 
At 8:26 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Crianças ao poder é efectivamente um título que nos faz reflectir na actualidade das nossas crianças, entregues a elas próprias e portanto com bastante poder!!!!
Prometo voltar, gostei do blog!
Um abraço!

 
At 8:29 da tarde, Blogger Rosa Silvestre said...

ana s.,sérgio, joana, paulo, antónio, vítor,raquel, helena,sofia,kd, nana,sandokan e valter, muito obrigada pelos comentários gentis e voltem sempre!
Beijinhos e abraços a quem tem de direito!

 
At 8:35 da tarde, Anonymous Anónimo said...

As crianças hoje têm tudo à mão, pois os pais ofereem e compram tudo!Somente não têm o que precisam mais: o carinho e o amor!Pena....
Bjinho.

 

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