segunda-feira, janeiro 22, 2007

A imitação nas crianças...


O jogo simbólico na criança (que tem início entre os 2-6 anos), implica a representação de um objecto ausente (o jogo de faz de conta) fazendo a comparação entre um elemento oferecido e um elemento imaginado (representação fictícia) ou seja, essa comparação consiste numa assimilação deformativa. Exemplo: a criança que desloca uma caixa imaginando ser um automóvel representa simbolicamente, este último pela primeira e satisfaz-se com uma ficção, pois o vínculo entre o significante e o significado permanece subjectivo.

A criança (entre os 4-10 anos) habitualmente direcciona-se em actividades lúdicas no seu contexto sociocultural (casa, creche, infantário, escola) através do jogo e do brinquedo (com o qual cria mais empatia) e ensaia papéis e valores (pai, mãe, irmãos, professores)por imitação.


Entre alguns autores conhecidos, Winnicott (estudou com afinco o brincar na infância, e interpretou este acto como uma liquidação de conflitos, e também como forma de comunicação) refere que a existência de um objecto que permite à criança o reconhecimento do ambiente familiar: o objecto de transição é muito importante para o desenvolvimento saudável e equilíbrio emocional da criança.
A criança mais pequena, geralmente usa como objecto de transição um paninho, uma fralda, um bocado de cobertor, um peluche, franjas do travesseiro, ..., caso contrário poderá apresentar algum tipo de distúrbio ou desequilíbrio emocional, porque o objecto de transição constituí o primeiro objecto fora do "eu", contribuindo como um apoio, um afecto, uma segurança para a mesma.

Neste sentido não é de estranhar que a criança se acompanhe, muitas vezes, deste objecto quando é hospitalizada ou vai passear com os seus pais ou educadores.

Para Winnicott o desenvolvimento intelectual, cognitivo e social dependem essencialmente da relação da criança com o objecto de transição, que é o ponto culminante do bom desenvolvimento do indivíduo e a partir deste: a brincadeira de imitar os adultos (mãe, irmãos, o pai, professor...), sendo estas também lembranças de como os adultos o tratavam e tratam.

O brincar contribui para o crescimento e a saúde, conduzindo aos relacionamentos em grupo.


Vygotsky, por outro lado, acha que quando a criança imita no seu brincar o comportamento dos mais velhos está gerando oportunidade de desenvolvimento intelectual.
No desenvolvimento da criança, a imitação e o ensino desempenham um papel de primordial importância.
Põem em evidência as qualidades especificamente humanas do cérebro e direccionam a criança a atingir novos níveis de desenvolvimento.
A criança fará sozinha amanhã aquilo que hoje é capaz de fazer cooperando.
No início, as brincadeiras são lembranças e reproduções de situações reais; posteriormente entram em jogo a dinâmica da imaginação e do reconhecimento de regras implícitas que dirigem as actividades reproduzidas no seu jogo, adquirindo um controle elementar do pensamento abstracto.
O natural é brincar, se a criança não brinca, algo de patológico está ocorrendo e precisa ser alvo de investigação.

Na brincadeira, a imitação dos adultos tem pois um papel fundamental na estruturação e conquista da identidade e na estruturação da personalidade da criança.
A constante imitação dos adultos não é obstáculo à sua originalidade, unicidade e irreversibilidade pessoal, embora condicione fortemente o seu carácter, marcando-o com muitos dos traços presentes no meio em que cresce e se desenvolve.
O que constitui preocupação para pais e educadores é a imitação por parte da criança de comportamentos que, muitas vezes, não são supervalorizados por muitos pais e educadores e chegam até ao extremo, se tivermos em consideração o que se passou com o visionamento das imagens do enforcamento de Saddan por TV que provocaram a morte de três crianças de 10, 11 e 15 anos de idade que imitaram a execução nos EUA, na India e Paquistão.






As crianças observam e fazem o que observam
http://www.ipv.pt/forumedia/3/3_fe5.htm
Todos estes comportamentos e factos ocorridos fazem com que nos questionemos, muitas vezes, que crianças estamos a formar? Serão as crianças de hoje vítimas de permissividade e facilitismos por parte dos Adultos que, muitas vezes, não impõem limites e regras, quando necessário, de modo que as crianças compreendam que chamar a atenção para o que está mal, EDUCAR, também é amar?

Brazelton, pediatra americano mundialmente reconhecido, afirma que "criamos crianças cada vez mais stressadas, mais ansiosas em relação ao futuro e mais zangadas. Daí as inúmeras histórias de tiroteios em escolas nos Estados Unidos. Isto é um sintoma gravíssimo de quão inseguras as nossas crianças se sentem. Acho que as coisas não estão a melhorar nesse nível.
As crianças do século XXI deveriam-se incluir numa família".

"É importante ajudar os pais a poderem tomar a opção de educarem as suas crianças perto deles, dando-lhes todo o apoio". Este deveria ser todo o apoio necessário, tentando-lhes incutir valores humanos e altruístas, que se estão a perder, como sabemos.

"Precisamos muito de sistemas de apoio às famílias. A partir daí as crianças desenvolverão a sua auto-estima, o seu altruísmo com naturalidade e serão crianças motivadas para aprender o que quer que seja", diz ainda Brazelton.

Concluindo:
- Se uma criança cresce em ambientes familiares onde as pessoas tomam a vida a sério, aprende a comprometer-se com os outros, respeitando-os, tornando-se responsável, amada, desenvolvendo a sua auto-estima;
- Se vive em ambientes agressivos torna-se agressiva, indisciplinada, não respeitando as outras crianças por inúmeros factores, entre eles a carência de afecto e o abandono (muitas das vezes, "o deixar andar", por parte dos adultos responsáveis).

Bibliografia:
Piaget(1959)A Linguagem e o Pensamento da Criança. Trad. Manuel Campos. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 307p.
Vygotsky(1984)A formação social da mente. Martins Fontes.
Winnicott(1996)Pensando sobre crianças. Trad. de Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997. W21 - Thinking About Children, eds. R.Shepherd/J.Johns/H.T.Robinson. London, Karnac Books.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Solidariedade com a Ajuda de Berço


Amigos e visitantes:

Alguns blogistas, em solidariedade com a causa da Ajuda de Berço têm chamado (por vários meios: e-mails, telefonemas, mensagens) a atenção para esta causa no sentido de MARCARMOS A DIFERENÇA ao APOIARMOS http://www.ajudadeberco.pt/index_pt.html


como pudermos as crianças que ainda sofrem de diversas maneiras, na maioria das vezes, crianças que não têm culpa dos abusos que sofreram, do abandono etc,

Ou então UM CLIQUE POR DIA em: http://www.arcidadania.org/
traz saúde e alegria ... e não custa nada ...

Já cliquei hoje!

Tenham uma excelente semana.

domingo, janeiro 07, 2007

O uso da boneca na criança pré-escolar hospitalizada ...


Este post já o tinha prometido quando falei da boneca.
Na realidade, o uso da boneca na criança pré-escolar como terapia quando necessário é cada vez mais frequente, tendo em atenção as características psico-sociais desta faixa etária.
A criança pré-escolar é muito sensível ao carinho, assim como à injustiça ou ao castigo.
As palavras ofensivas tendem a ferir os seus sentimentos.
Gosta de elogios e de aprovação; é capaz de chorar ou rir com facilidade; é dominadora e autoritária, embora boa companheira, podendo criar vínculos afectivos e preocupar-se com o outro.

Habitualmente o pré-escolar é mais ligado afectivamente com as pessoas mais próximas (geralmente com os pais e os irmãos) e mostra-se solidário, expondo os seus sentimentos, colocando-se no lugar da pessoa de quem gosta, ou seja, actua de maneira empática.
Por outro lado, a criança pré-escolar quando não é o alvo das atenções sente ciúme. O egocentrismo é tão marcante, na maioria das vezes, que se manifestará em todas as áreas de actuação da criança (intelectual, social e de linguagem).
A criança nesta idade vive pois na fantasia, transporta com bastante facilidade, os seus mais variados sentimentos para os personagens dos contos, sendo que tais sentimentos podem ir aumentando, por intermédio da repetição da mesma história. Ela envolve-se com o conto, apropriando-se da personagem.
Ao escutar uma história, a criança passa de ouvinte passivo a participante activo dos acontecimentos.

Quando prevê o surgimento de uma passagem com factos mais negativos pode pedir para que seja encerrado o livro ou inventa algo mais aceitável e, muitas vezes, tenta intervir nos acontecimentos.

O medo ocupa assim um lugar especial entre os sentimentos desta criança.
Pode ser resultante de uma educação rígida ou não e/ou de um comportamento irracional do adulto, o que provoca pânico e angústia na criança.
O adulto pode transformar um simples facto em algo traumático para a criança ou ainda, transmitir-lhe o seu medo Como exemplo disso, podemos citar a figura da própria mãe que, por medo de um animal, acaba transmitindo para o seu filho o mesmo sentimento.

O medo surge, algumas vezes, sem a influência directa do adulto.
A criança, ao deparar-se com algo desconhecido, pode experimentar assombro, curiosidade e/ou medo como no caso de um internamento ou hospitalização.

Em grande parte nos serviços de Cirurgia Pediátrica é usual a utilização de bonecas para ajudar a superar o medo da criança em idade pré-escolar acerca de tratamentos pré-cirúrgicos, da própria cirurgia ou pós-cirúrgicos que elas possam ter ou vir a ter, embora posteriormente, tendo como finalidade facilitar a realização de todos os procedimentos clínicos que a criança irá eventualmente sofrer.


Habitualmente são as(os) enfermeiras(os) pediátricos que explicam às crianças, através de uma boneca comum (chamada de boneca terapêutica), quais os tratamentos que estas irão efectuar, elucidando onde e como e pedem às crianças para realizarem na boneca aquilo que lhes foi ensinado.
Neste sentido a boneca utilizada sofre pequenas intervenções, com a ajuda das enfermeiras, visando a possibilidade da colocação de cateteres, sondas, drenos, sacos de colheita de urina ou outros exames, ou seja, as crianças manuseiam a boneca e transferem para a mesma, em parte, os seus medos.


Com estes procedimentos, as crianças, ou seja, os pequenos doentinhos perdem o medo dos tratamentos e não resistem tanto aos mesmos, ficando mais confiantes naquilo que os espera.

Estes procedimentos já se realizam em Portugal há alguns anos.
A boneca passou a ser utilizada no hospital para acalmar não só as crianças, mas também os seus pais.
A boneca, que pode ser substituída por boneco de peluche, tanto pode ser propriedade do hospital como da própria criança, ficando ao critério da mesma.




Uma enfermeira (Enf.ª Nídia) que trabalha num serviço de Cirurgia Pediátrica de um Hospital Pediátrico diz-nos: "Muitas vezes a criança chega ao hospital é internada no serviço e vai ser imediatamente submetida, por exemplo, à perfusão de soro, que pode ser visto e sentido por ela como um procedimento agressivo.

A família, por sua vez, também se pode assustar e a boneca vai, em tom de brincadeira, fazer o papel de mediador, e ser submetida a esse mesmo procedimento".

A boneca faz com que as crianças internadas e os seus familiares (habitualmente os pais) conheçam melhor o ambiente hospitalar que, era até àquela data, um mundo desconhecido para eles.

"Na unidade de Cirurgia Pediátrica a utilização da boneca é pois mais intensiva porque a cirurgia causa medo, espanto, apreensão ao utente pediátrico (crianças e pais).
Com a utilização da boneca existe toda uma relação de confiança e segurança que se vai adquirindo pois são transmitidas as informações necessárias em tom de brincadeira!”, acrescenta a Enf.ª Nídia.

A boneca terapêutica representa um momento de humanização e acolhimento em todo o processo de tratamento e recuperação da criança, além de contribuir para melhorar a interacção entre doente, pais e pessoal de enfermagem.
"Isso é muito importante na recuperação da criança e no seu comportamento
durante o acto cirúrgico, por exemplo”, refere ainda a Enf.ª Nídia.

Não contando com os casos, que não são tão poucos como se pensa, em que a criança tem alta e sai do hospital com uma sonda colocada ou um cateter também colocado e nesse momento os pais têm que saber como manipulá-los .
Habitualmente os pais aceitam um treinamento efectuado por meio da boneca e assim participam activamente nos cuidados a prestar aos seus filhos com a ajuda dos enfermeiros pediátricos.

Uma das psicológas que trabalha numa unidade oncológica , Elizabeth Barros, refere que o uso da boneca terapêutica é fundamental para o tratamento das crianças internadas no hospital. "Esse manuseio proporciona à criança a possibilidade de lidar com os seus medos, com a fantasia do desconhecido e isso traz efeitos bastante positivos porque a criança aceita melhor os tratamentos, que são bastante invasivos e deixam a criança assustada".
Segundo Elizabeth Barros, a criança ao brincar resgata tudo aquilo que faz parte de seu mundo, já que a doença, o seu tratamento e os efeitos colaterais não fazem parte desse mundo. "O que faz parte do mundo da criança é o lúdico, o brincar, o saudável da vida, então o brincar dentro do hospital proporciona um conforto físico e a melhoria da qualidade de vida da criança".



Brincar é pois a actividade mais importante da vida de uma criança e é crucial para o seu desenvolvimento motor, afectivo, mental e social.
É a forma pela qual ela se comunica com o meio ambiente em que vive e expressa activamente os seus sentimentos, ansiedades e frustrações.
Por meio do brinquedo, num evento em que é sujeito passivo, a criança transforma-se num investigador e controlador activo, e adquire o domínio da situação utilizando a brincadeira e a fantasia.


Bibliografia:

Artigo de Flávia Albuquerque (Agência Brasil)-2003

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692001000200011
– Protocolo de Preparação da criança pré-escolar para função venosa, através da utilização de um brinquedo terapêutico

Whaley & Wong - Enfermagem Pediátrica- Elementos essenciais à Intervenção Efectiva-2004
Hockenberry &Wong - Fundamentos da Enfermagem Pediátrica - 2006