quinta-feira, outubro 26, 2006

Abuso sexual infantil

Define-se geralmente abuso sexual infantil como qualquer comportamento sexual inadequado com uma criança por parte de um adulto ou outra criança mais velha (jovem), no sentido de obrigar ou persuadir a mesma a realizá-lo, violando os princípios sociais atribuídos essencialmente aos papéis familiares.
Pode manifestar-se por penetração anal ou vaginal, contacto oral-genital, roçar os genitais (adulto) com a criança, quaisquer toques nos genitais da criança ou induzir na criança o toque de genitais de outrém.
Seja qual for o número de abusos sexuais em crianças que se observa nas estatísticas, e que não são poucos (o abuso sexual de crianças é três vezes mais comum do que os maus tratos físicos, sendo que 85% dos violadores são membros da família ou amigos da criança, revela a Associação de Mulheres contra a Violência) devemos ter em conta que, de facto, esse número pode ser bem maior.
A maioria dos casos de abuso sexual não é imediatamente detectada, tendo em vista que as crianças têm medo de dizer a alguém o que se passou com elas, por vergonha ou porque têm medo de sofrer futuras represálias por parte da entidade violadora.
Os danos - emocional e psicológico - a longo prazo, ocasionados por essas experiências podem ser devastadores, senão vejamos o alerta deste pequeno vídeo, cuja mensagem permite interpretar que nem a doença de Alzheimer conseguiu apagar essas lembranças traumáticas:

http://www.ad-awards.com/commercials/directory/categories/non-profit/alzheimers/commercials-6-218.html

Nesta perspectiva, a prevenção deve ser iniciada o mais precocemente possível.
Deveria pois ser feita quando a criança possui compreensão da sua sexualidade, começa a compreender o seu corpo, começa a questionar sobretudo a sua mãe acerca do que se passa com o seu corpo. Os pais devem orientá-la para que ela não permita que toquem no seu corpo sem a sua permissão, não deixar que toquem nos seus genitais e estarem informadas de outros tipos de abuso sexual que chamam menos atenção como, por exemplo, um adulto mostrar os genitais a uma criança, incitar a criança a ver revistas ou filmes pornográficos, ou utilizar a criança para elaborar material pornográfico ou obsceno.

Segundo a organização Associação de Mulheres contra a Violência, a realidade é "preocupante" e pode ser modificada se houver uma posição mais coerente por parte da justiça portuguesa.
"É preciso que os Tribunais portugueses tenham coragem para dissuadir potenciais agressores, decretando prisão preventiva em mais situações e acelerando os julgamentos", defendeu Margarida Medina Martins, vice-presidente desta Associação.
O caso recente do menino de seis anos (Daniel) que morreu no passado dia 6 de Setembro, vítima de abusos sexuais por parte do padrastro, um jovem de 16 anos, veio relançar o debate sobre este tema (um pouco apagado, após a extensa "novela" Casa Pia - http://www.tvi.iol.pt/casapia/).

Cerca de três centenas de pessoas ligadas e interessadas neste tema, entre psicólogos, educadores, médicos, enfermeiros, assistentes sociais, professores e juristas participaram no seminário moderado pelo investigador norte-americano Jon Conte (http://depts.washington.edu/sswweb/directory/p.php?id=23), docente na Universidade de Washington.
Para o professor Conte, é "prioritário" que pais e professores estejam atentos a sinais que podem indiciar que a criança foi vítima de abuso sexual.
"O nervosismo, a ansiedade, o isolamento e a desconfiança são indícios que devem ser motivo de preocupação", defendeu o investigador, que desde 1980 trabalhou com mais de 5 mil jovens e adultos traumatizados.
Segundo Conte, há uma grande probabilidade que uma criança que foi vítima de abuso sexual sofra um outro tipo de violência quando for adulta.
"Normalmente, são pessoas que revelam uma fragilidade que é detectada pelos violadores, daí que os traumas anteriores constituam um dos critérios de selecção das vítimas", esclarece o investigador.
É difícil traçar um perfil, mas os violadores, na sua maioria homens, são pessoas que têm dificuldade em controlar a agressividade. Alguns também foram vítimas de abusos.
"Uma forma de ultrapassar o trauma é recriar a experiência traumática. São comuns os casos de jovens agressores que sofreram abusos em criança. Muitos alegam que precisavam de ser colocar na posição do agressor", refere o docente.
Contudo, "a maioria dos violadores tende a não assumir os seus actos, minimizando os abusos praticados". É, por isso, fundamental que o terapeuta ajude o agressor a ter consciência dos crimes praticados.

Os números do primeiro relatório das Nações Unidas (ONU) a investigar a fundo o problema da violência infantil são avassaladores: 223 milhões de raparigas e rapazes foram forçados a manter relações ou sofreram algum tipo de abuso sexual, 218 milhões participaram em esquemas de trabalho infantil e 275 milhões presenciaram cenas de violência doméstica.
"As crianças e jovens são hoje alvo de actos de violência que não eram registados há séculos", lê-se no relatório encomendado em 2003 pelo secretário-geral da ONU a um perito independente, o investigador brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro.

Em Portugal, a Direcção Regional de Educação faz algum trabalho de prevenção nesta área, através de programas/actividades dirigidas a pais/mães, encarregadas/os de educação/educadores/as, crianças e jovens de acordo com a faixa etária.
Quando existem suspeitas de eventuais casos de abuso sexual são, de imediato, encaminhados para a Medicina Legal, Comissões de Crianças e Jovens em Risco, Hospitais, Polícia Judiciária e outros organismos (http://www.drec.min-edu.pt/abuso/filme3.swf).
Cabe também aos Centros de Saúde, entidades comunitárias, através dos seus técnicos (médicos, enfermeiros, psicólogos) fazer o acompanhamento destas crianças/jovens quando têm conhecimento destes casos.

Bibliografia disponível em:

Ballone GJ - Abuso Sexual Infantil, in. PsiqWeb, Internet;

http://www.enfermagem21.blogspot.com/

http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1273226

sábado, outubro 07, 2006

Falando em clones ...


"De certa maneira, todos sofremos processos de clonagem cultural.
Vivemos em sociedade e para nos inserirmos nela "encaixamo-nos" em determinados padrões e ideais.
Contudo, ultimamente, fala-se excessivamente em clonagem reprodutiva e terapêutica.
- Pode discutir-se se os benefícios da clonagem reprodutiva são exactamente os mesmos de qualquer outro modo de reprodução
, quer se realizem porque o indivíduo não tem outra hipótese de se reproduzir, quer por motivos religiosos ou porque lhe apeteceu.
Na minha sincera opinião, os fundos nunca deviam ser públicos (ao contrário da clonagem terapêutica, eventualmente).
Isso reduz logo o número de candidatos.
As pessoas morrem, é um facto.
Mas há muita gente no mundo que pode ser ajudada e adoptada sem recorrer a tecno-placebos.
- Se a técnica se vulgarizar, rapidamente se chegará a conclusões que são importantes definir:

Primeiro,
é mesmo possível sem grandes problemas para o feto clonado?
Ou foi tudo uma mistificação?
A possibilidade de deformidades no feto e a existência de vários problemas de saúde (à semelhança daquilo que acontece com outros animais) é a grande incógnita, e a razão pela qual os responsáveis pelo procedimento podem ser atacados do ponto de vista ético por qualquer cidadão responsável, independentemente das suas convicções.
Se o processo for lesivo para o feto deve ser proibido.
De qualquer modo, duvido que haja muitos candidatos se se mostrar que o procedimento é pouco seguro.
Note-se que os adeptos de Rael, apesar de terem treino nesse sentido não são Cientistas.
Não têm pois quaisquer responsabilidades em termos de ética, divulgação de procedimentos, ou de apresentar provas de que conseguiram clonar o que quer que seja.
Segundo:
até que ponto dois seres com o mesmo património genético à partida serão semelhantes?
A resposta é quase certa: Alguma coisa, mas nunca totalmente.
Lá por termos os mesmos genes não significa que estejam activos ao mesmo tempo, ou que a sua interacção com um meio (que será diferente, do útero, à sociedade) seja idêntica.
O gato clonado CC (carbon copy) nem sequer tem a mesma pelagem do original, Rainbow!
O original é castanho branco e preto, o clone é branco e negro. E é mesmo um clone.
Também ao nível do comportamento parecem distintos.
Aliás, verificou-se recentemente que 8 porcos clonados (a partir de células embrionárias, não adultas) apresentam comportamentos tão distintos como 8 porcos escolhidos ao acaso.
Ou seja, o clone pode não se parecer nada com o original.
Isto para além de, obviamente, não ter os mesmos comportamentos e tiques adquiridos.
Se esta mensagem passar, menos candidatos haverá para a clonagem reprodutiva.
Não se pode ressuscitar alguém, nem vamos todos viver para sempre.
Mas a condição humana é tal que será sempre inevitável que alguns tentem.
Morte e identidade são duas coisas muito importantes, tal como a curiosidade e a vontade de fazer...
- Outro problema são as expectativas criadas.

Imaginemos que um casal quer clonar um filho que morreu num acidente.
Um filho simpático e bem disposto, bom aluno e com talento musical.
Como reagirão se o clone não tiver inclinação pela música e tiver, pelo contrário, mau feitio e piores notas?
Pois, mas também é verdade que pais vêm carregando os filhos com expectativas semelhantes desde o início dos tempos.
- Quanto à dignidade do clone:

No princípio, os "bébes proveta" também foram marginalizados.
E agora? Alguém dá importância a isso?
Ou seja, se o procedimento se vulgarizar, clones humanos apenas serão o que são: pessoas".

Entrevista de Joao Ramalho-Santos (Ciência Viva)

Questiono, se assim for, se os clones forem apenas pessoas, qual a vantagem dos clones?

Outra entrevista interessante sobre clonagem:
http://www.prof2000.pt/users/secjeste/recortes/Ciencia/Clonag07.htm

domingo, outubro 01, 2006

Quem não se recorda da "boneca"?

Quem (das meninas e ... dos meninos que, na maioria das vezes, adoravam irritar, sempre que possível e quando apetecível, as manas, quando lhas tiravam...) não se recorda da sua boneca, fruto de inúmeras brincadeiras, fosse ela de trapos, de porcelana, de borracha ou de plástico?

"Deixando a bola e a peteca,

Com que inda há pouco brincavam,

Por causa de uma boneca,

Duas meninas brigavam.


Dizia a primeira: "É minha!"

— "É minha!" a outra gritava;

E nenhuma se continha,

Nem a boneca largava.


Quem mais sofria (coitada!)

Era a boneca. Já tinha

Toda a roupa estraçalhada,

E amarrotada a carinha.


Tanto puxaram por ela,

Que a pobre rasgou-se ao meio,

Perdendo a estopa amarela

Que lhe formava o recheio.


E, ao fim de tanta fadiga,

Voltando à bola e à peteca,

Ambas, por causa da briga,

Ficaram sem a boneca."


Olavo Bilac (1865-1915)
poeta brasileiro