A imitação nas crianças...
O jogo simbólico na criança (que tem início entre os 2-6 anos), implica a representação de um objecto ausente (o jogo de faz de conta) fazendo a comparação entre um elemento oferecido e um elemento imaginado (representação fictícia) ou seja, essa comparação consiste numa assimilação deformativa. Exemplo: a criança que desloca uma caixa imaginando ser um automóvel representa simbolicamente, este último pela primeira e satisfaz-se com uma ficção, pois o vínculo entre o significante e o significado permanece subjectivo.
A criança (entre os 4-10 anos) habitualmente direcciona-se em actividades lúdicas no seu contexto sociocultural (casa, creche, infantário, escola) através do jogo e do brinquedo (com o qual cria mais empatia) e ensaia papéis e valores (pai, mãe, irmãos, professores)por imitação.
Entre alguns autores conhecidos, Winnicott (estudou com afinco o brincar na infância, e interpretou este acto como uma liquidação de conflitos, e também como forma de comunicação) refere que a existência de um objecto que permite à criança o reconhecimento do ambiente familiar: o objecto de transição é muito importante para o desenvolvimento saudável e equilíbrio emocional da criança.
A criança mais pequena, geralmente usa como objecto de transição um paninho, uma fralda, um bocado de cobertor, um peluche, franjas do travesseiro, ..., caso contrário poderá apresentar algum tipo de distúrbio ou desequilíbrio emocional, porque o objecto de transição constituí o primeiro objecto fora do "eu", contribuindo como um apoio, um afecto, uma segurança para a mesma.
Neste sentido não é de estranhar que a criança se acompanhe, muitas vezes, deste objecto quando é hospitalizada ou vai passear com os seus pais ou educadores.
Para Winnicott o desenvolvimento intelectual, cognitivo e social dependem essencialmente da relação da criança com o objecto de transição, que é o ponto culminante do bom desenvolvimento do indivíduo e a partir deste: a brincadeira de imitar os adultos (mãe, irmãos, o pai, professor...), sendo estas também lembranças de como os adultos o tratavam e tratam.
O brincar contribui para o crescimento e a saúde, conduzindo aos relacionamentos em grupo.
Vygotsky, por outro lado, acha que quando a criança imita no seu brincar o comportamento dos mais velhos está gerando oportunidade de desenvolvimento intelectual.
No desenvolvimento da criança, a imitação e o ensino desempenham um papel de primordial importância.
Põem em evidência as qualidades especificamente humanas do cérebro e direccionam a criança a atingir novos níveis de desenvolvimento.
A criança fará sozinha amanhã aquilo que hoje é capaz de fazer cooperando.
No início, as brincadeiras são lembranças e reproduções de situações reais; posteriormente entram em jogo a dinâmica da imaginação e do reconhecimento de regras implícitas que dirigem as actividades reproduzidas no seu jogo, adquirindo um controle elementar do pensamento abstracto.
O natural é brincar, se a criança não brinca, algo de patológico está ocorrendo e precisa ser alvo de investigação.
Na brincadeira, a imitação dos adultos tem pois um papel fundamental na estruturação e conquista da identidade e na estruturação da personalidade da criança.
A constante imitação dos adultos não é obstáculo à sua originalidade, unicidade e irreversibilidade pessoal, embora condicione fortemente o seu carácter, marcando-o com muitos dos traços presentes no meio em que cresce e se desenvolve.
O que constitui preocupação para pais e educadores é a imitação por parte da criança de comportamentos que, muitas vezes, não são supervalorizados por muitos pais e educadores e chegam até ao extremo, se tivermos em consideração o que se passou com o visionamento das imagens do enforcamento de Saddan por TV que provocaram a morte de três crianças de 10, 11 e 15 anos de idade que imitaram a execução nos EUA, na India e Paquistão.
As crianças observam e fazem o que observam http://www.ipv.pt/forumedia/3/3_fe5.htm
Todos estes comportamentos e factos ocorridos fazem com que nos questionemos, muitas vezes, que crianças estamos a formar? Serão as crianças de hoje vítimas de permissividade e facilitismos por parte dos Adultos que, muitas vezes, não impõem limites e regras, quando necessário, de modo que as crianças compreendam que chamar a atenção para o que está mal, EDUCAR, também é amar?
Brazelton, pediatra americano mundialmente reconhecido, afirma que "criamos crianças cada vez mais stressadas, mais ansiosas em relação ao futuro e mais zangadas. Daí as inúmeras histórias de tiroteios em escolas nos Estados Unidos. Isto é um sintoma gravíssimo de quão inseguras as nossas crianças se sentem. Acho que as coisas não estão a melhorar nesse nível.
As crianças do século XXI deveriam-se incluir numa família".
"É importante ajudar os pais a poderem tomar a opção de educarem as suas crianças perto deles, dando-lhes todo o apoio". Este deveria ser todo o apoio necessário, tentando-lhes incutir valores humanos e altruístas, que se estão a perder, como sabemos.
"Precisamos muito de sistemas de apoio às famílias. A partir daí as crianças desenvolverão a sua auto-estima, o seu altruísmo com naturalidade e serão crianças motivadas para aprender o que quer que seja", diz ainda Brazelton.
Concluindo:
- Se uma criança cresce em ambientes familiares onde as pessoas tomam a vida a sério, aprende a comprometer-se com os outros, respeitando-os, tornando-se responsável, amada, desenvolvendo a sua auto-estima;
- Se vive em ambientes agressivos torna-se agressiva, indisciplinada, não respeitando as outras crianças por inúmeros factores, entre eles a carência de afecto e o abandono (muitas das vezes, "o deixar andar", por parte dos adultos responsáveis).
Bibliografia:
Piaget(1959)A Linguagem e o Pensamento da Criança. Trad. Manuel Campos. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 307p.
Vygotsky(1984)A formação social da mente. Martins Fontes.
Winnicott(1996)Pensando sobre crianças. Trad. de Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997. W21 - Thinking About Children, eds. R.Shepherd/J.Johns/H.T.Robinson. London, Karnac Books.