Crianças "esquecidas" ou "transparentes" - Parte I
Cada vez mais, por vários factores, entre os quais se contam a pobreza, os problemas financeiros, as questões de saúde ou a questão de "pais" que não sentem a capacidade natural para assumir essa tarefa, a complexidade das famílias destruturadas, existem crianças ou jovens que vivem à margem dos outros, que são reconhecidas como "esquecidas", tanto a nivel físico, social, psicológico ou emocional (incluindo aqui os afectos).
Acontece com muitos meninos e jovens, filhos de pais alcoólicos e toxicodependentes, os quais são maltratados físicamente (na maioria, existem relatos de espancamentos e abuso sexual) e psicologicamente e são retirados aos mesmos pela segurança social e colocados em determinadas instituições, onde ficam, muitas das vezes, ao "abandono".
As "famílias" nunca lá os vão visitar e eles crescem assim num meio onde raramente são acarinhados e são maltratados como se estivessem praticamente a viver no meio de onde vieram.
Algumas dessas crianças em risco ou jovens acabam por ir viver com os seus avós (nem sempre a melhor opção, porque podem não ser os mais indicados para ficarem com eles, pela grande distância e/ou descripância entre valores que cada geração vai defendendo ou por ficarem longe os seus pares, no caso dos jovens) ou em alguma instituição aconselhada (de acolhimento breve ou permanente, como a Casa Pia) ou de ocasião (que podem não reunir as condições exigidas por lei e consequentemente adequadas) e/ou ainda nalguma família de acolhimento.
" O número de crianças, sobretudo bebés, que aguardam alta social nos serviços hospitalares tem vindo a aumentar, noticia o Expresso.
Apesar de as crianças já se encontrarem bem do ponto de vista clínico, alguns dos pais biológicos carecem de condições para os receber, pelos que têm de aguardar por uma instituição ou família de acolhimento.
Algumas das crianças ou jovens, que passam por essas instituições, sofrem emocionalmente essas vivências e, muitas vezes, fisicamente, (por maus tratos , essencialmente pelos mais velhos) o que se vem reflectir no seu comportamento posterior na escola ou na família de acolhimento (comportamento anti-social, manifestado por agressividade dirigida a si próprio - autoagressividade ou a quem está por perto - heteroagressividade).
Na realidade, na maioria das vezes, não conseguem estabelecer relações de vínculo afectuoso com quem delas cuida ou então sofrem várias tentativas de relacionamento, que se vão tornando superficiais, à medida que o tempo decorre, são "relações de passagem" e frustantes para a referida criança ou jovem, que necessitam de ter alguém, de preferência um adulto como a sua referência.
Outras são abandonadas pelos pais e vivem uma vida na esperança de serem adoptados para terem aquilo que nunca tiveram… Afecto!
Em algumas instituições, seria óptimo que se garantisse que as crianças ou jovens que vivem nelas, usufruíssem de um pouco de carinho e conforto por pessoal especializado e não por pessoal que parece que está ali a fazer um favor, sem terem em conta as reais necessidades das crianças que estão sob os seus cuidados.
Um pouco de carinho não custa nada e faz toda a diferença para todas as crianças e jovens que ali estão sem terem culpa daquilo que lhes aconteceu.
O afecto faz falta a todas as crianças para poderem crescer e serem pessoas adultas com vidas normais…
Cabo Verde tem um número crescente de crianças abandonadas, assistindo ao mesmo tempo a um novo fenómeno de "mães invisíveis", alerta a presidente do Instituto Cabo-verdiano da Criança e do Adolescente (ICCA). Em entrevista à Agência Lusa, Marilena Baessa explica que recentemente se começaram a detectar casos de mulheres que chegam à maternidade, dão um nome falso, e depois do parto desaparecem, abandonando as crianças.
R.S.