As infecções respiratórias (IR) constituem o maior grupo de doenças na criança, principalmente nos primeiros anos de vida. Uma criança tem, em média, 9 a 10 infecções respiratórias por ano, representando estas cerca de 40% das causas que levam as crianças a recorrer aos Serviços de Urgência Pediátrica dos Hospitais da área da Grande Lisboa, de Coimbra e do Grande Porto.
A distribuição das infecções respiratórias é anual, mas o pico da sua incidência regista-se durante os meses de Inverno (período sazonal). Este fenómeno é devido à maior facilidade de contágio pelos microorganismos presentes nas secreções respiratórias, quando as crianças se acumulam em espaços fechados, como creches, infantários (ou infectários?) e escolas e até mesmo nas Urgências dos Hospitais (demasiado congestionadas por falsas urgências).
A grande maioria destas infecções é causada por vírus, alguns dos quais (vírus sincicial respiratório, vírus influenzae) têm uma distribuição predominante nos meses de Inverno. Os vírus são microorganismos que se aproveitam das células do hospedeito (homem, animal, bactéria) para se poderem multiplicar. Neste processo podem lesar essas células destruindo-as e causando a doença. São estes os agentes que, de longe, mais infecções respiratórias causam na idade pediátrica.Após um primeiro contacto, a criança ganha defesas contra esse vírus e alguns subtipos semelhantes. No entanto, se soubermos que a “constipação” comum pode ser causada por 100 tipos e subtipos de vírus, é fácil perceber que podem decorrer vários anos até que uma criança se torne imune à maioria das viroses mais comuns.
Os antibióticos, medicamentos que combatem as bactérias, não têm qualquer acção sobre os vírus. Medicar indiscriminadamente com um antibiótico qualquer infecção respiratória numa criança, quando o mais frequente é esta ser causada por um vírus, não só não apressa a evolução natural dessa doença como vai contribuir perigosamente para a emergência de estirpes bacterianas resistentes aos antibióticos mais comuns. Este facto levanta problemas quando é necessário tratar infecções graves causadas por essas bactérias que adquiriram multiresistências.Estudos feitos no nosso país mostram bem que, tal como sucede nos E.U.A, Japão e outros países da Europa, também em Portugal se encontram na garganta ou nariz de crianças que frequentam infantários, bactérias (Pneumococos) resistentes aos antibióticos mais habituais.
Um outro aspecto das infecções respiratórias na criança pequena é a frequência com que se acompanham de pieira (“assobio” ao respirar). Sabe-se que 20% de todas as crianças têm pelo menos uma infecção respiratória com pieira. Este facto causa ansiedade nos pais que questionam frequentemente se o seu filho é, ou poderá vir a ser, um asmático. Cerca de um terço dessas crianças terão outros episódios similares até depois dos seis anos. Essas crianças geralmente apresentam história familiar ou antecedentes de manifestações alérgicas e a infecção com pieira poderá ter sido uma manifestação precoce de uma asma futura. Os outros dois terços não vão ter pieira persistente para além dos três anos de vida, altura em que o número de infecções respiratórias diminui acentuadamente. Infelizmente não é possível reconhecer nos episódios iniciais a qual destes dois grupos pertence a criança, pelo que a resposta à questão só pode ser dada ao longo do tempo de acompanhamento da mesma.
O combate eficaz às infecções respiratórias e as suas sequelas passa, antes de mais, por uma atitude preventiva que inclui a vigilância do cumprimento do Plano Nacional de Vacinações, e a escolha, quando a frequência do infantário é imperativa, de um espaço que seja arejado, com bastante ar livre e com uma boa relação ocupante/área. As crianças não devem ir para o infantário ou escola quando febris e o recurso à Urgência Hospitalar deve se limitado aos casos verdadeiramente urgentes.Os pais devem estar alertados que as crianças expostas ao fumo do tabaco têm muito maior incidência de infecções respiratórias, frequentemente acompanhadas de pieira ou dificuldade respiratória, pelo que não devem expor as suas crianças a viver em ambientes com fumos (do tabaco ou lareiras).
Outro factor preponderante nas infecções respiratórias é o aumento das alergias nas crianças. É sabido que "os doentes alérgicos estão mais sujeitos a infecções respiratórias". Num estudo sobre a população infantil portuguesa (International Study of Ashma and Alergy in Childhood) divulgado em 2003, constatou-se que entre os anos de 1995 e 2001 houve um aumento da prevalência (pelo menos uma manifestação da doença no último ano) de três por centro no caso da asma, oito por cento no caso da rinite, quatro por cento no da rinite associada à conjuntivite e um por cento no caso do eczema, informam alguns pediatras. Factores hereditários, mas também de tipo ambiental (ambientes mais poluídos) e alimentar (mais ingestão de alimentos com corantes e conservantes) estão entre os factores que explicam esta subida. Quando a chamada bronquiolite não traz febre e é repetida num curto espaço de tempo pode justificar-se fazer um estudo para saber se a criança é alérgica ou não.
Mas destas infecções respiratórias e dos seus cuidados falarei adiante ...