Nos meios de comunicação social aborda-se e especula-se (não raras vezes) acerca da violência dos pais sobre os seus filhos, sejam eles crianças ou jovens e também sobre a violência familiar (pais, netos,…) sobre os idosos, mas por vergonha e desculpabilização, pouco ou nada se comenta acerca da violência das crianças ou jovens sobre os seus progenitores, ou seja, sobre os seus pais.Cada vez mais, chega à APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) um role de queixas (em 2005 registaram-se 252 queixas e em 2006, 349 casos de agressão por estalos, empurrões, murros e pontapés) , ainda reduzidas e “envergonhadas” acerca de jovens que agridem os pais sem possuírem qualquer comportamento de foro psiquíco que justifique tal acto (num post posterior abordarei o comportamento de oposição por doença).
Habitualmente, segundo a APAV, os agressores são jovens de todas as classes sociais, a quem os pais não souberam impor limites no seu comportamento, impondo-se no centro familiar como se fossem “pequenos ditadores”. São crianças mimadas, caprichosas a quem os pais satisfazem todos os pedidos.
Refere ainda Daniel Contrim, psicólogo clínico da APAV, que “as crianças maltratadoras, que insultam os pais, que agridem física e psicologicamente, são produto de uma sociedade que, quando considerou o século XX o século da criança provocou profundas alterações no modelo educativo”, permitindo-se alguns excessos no sentido da permissividade.
São as crianças que, em casa, batem nos pais, roubam-lhes o dinheiro, e no exterior agridem verbalmente e fisicamente a professora e até podem vir a fazer parte dos circuitos de delinquência!
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Na maioria das vezes, estas crianças não são difíceis de identificar: o menino de cinco anos que está no café e dá um pontapé na mãe e esta responde sorrindo e dizendo “isso não se faz”; a menina de quatro anos que faz uma “fita” enorme porque não quer comer a sopa e quer comer um bolo ou um pacote de batatas fritas, entornando a sopa e recebendo em troca o bolo ou o pacote de batatas fritas que tinha exigido anteriormente, “para não ficar com fome, coitadinha”, diz a mãe; o menino que vai para a escola com a roupa que quer, mesmo que não corresponda à estação do ano … na realidade, estas crianças aos olhos dos pais são pequenos ditadores, mas “ditadores adoráveis”, com “personalidades muito vincadas”, referenciam esses pais, mas parecem esquecer-se que são sobretudo crianças com uma exigência fora do normal, a quem os mesmos não conseguem estabelecer limites nem ordens.
Sabemos que existem factores que predispõem a estas situações: a dificuldade em conciliar a vida familiar com a vida profissional, a falta de tempo dos pais, a separação ou a imaturidade do casal, o deixar a criança “presa” ao visor do computador (Internet) ou da TV durante horas sem controlo (sem ninguém a supervisionar a que tipo de programas assistem) ou vídeo (a criança visiona jogos, por vezes, extremamente violentos!). Alguns desses factores impedem uma transmissão de valores que se requer eficaz (a criança fica muito sozinha, põe e dispõe a seu belo prazer …).
Actualmente psicólogos, educadores infantis, professores, enfermeiros e psiquiatras enfrentam um grave problema educativo: a demissão dos pais do seu papel educativo que é fundamental para que as crianças cresçam em perfeita harmonia. Os pais têm que entender que impor limites faz parte da educação, faz parte do “crescer”, os limites são pois necessários à educação da criança. É importante que a criança entenda que a comunidade onde vive tem regras e que essas regas existem para se cumprir.
Educar requer afecto, reflexão, coerência nas acções, segurança, compreensão ligada também à firmeza, respeito pelo espaço dos outros, sejam esses outros os pais ou os filhos.